Ao assistir uma peça teatral, um filme, uma série ou qualquer outra representação cênica, não nos damos conta do refinado processo de criação dos personagens. Mais presente no cinema, atores e atrizes abrem mão da vaidade e até passam por momentos sacrificantes para emplacar cenas o mais realista possíveis. Muitos artistas são exemplos de diversas transformações físicas e mentais aplicadas em nome da arte.
Em cena, apresentam incríveis performances que até podem chocar o público. Os processos podem se estender desde a pesquisa de texto, até as gravações e apresentações nos palcos.
Professor de Teatro da Uergs Montenegro, Marcelo Adams diz que existe uma diferença entre as composições cinematográficas e teatrais. “Há uma característica específica no cinema, onde o realismo das cenas é bem forte. O teatro não possui essa peculiaridade”, afirma.
As exigências para os dois tipos de atores também são distintas. Nas produções de filmes, o cuidado com a perfeição é muito marcante. Maquiagens, padrão corporal que combine com a história e ações desenhadas como se fosse na vida real. “Quando falamos de peças teatrais, temos a existência de uma dosagem nas características físicas. Usamos a maquiagem para reforçar as expressões e trabalhamos com preenchimentos”, aponta o professor.
Artistas vivem como moradores de rua por 24 horas para melhor atuação
O ator e estudante de Teatro na Uergs, João Pedro Decarli, 28 anos, passou 24 horas na rua, na cidade de Bento Gonçalves, junto da colega e amiga Nina Picoli. A ação fez parte da pesquisa para o TCC de Nina, que falava de um personagem excluído da sociedade. A fim de aprofundarem a pesquisa, foram até a Serra Gaúcha somente com o dinheiro da passagem de ônibus e passaram um dia como moradores de rua. “Um amigo teve que ir entregar dinheiro para a passagem de volta pra casa”, conta o ator.
João afirma que portava apenas uma garrafinha de água, papelão e isqueiro. “Muita coisa que aconteceu conosco entrou para o espetáculo. Ganhamos um cobertor de uma mulher e usamos em cena”, revela. A dupla não tinha conhecidos por perto, estava sem comida, enfrentando o frio e a chuva.
Conforme o estudante, o sono durou apenas um pouco mais de duas horas. Além disso, não portavam telefone e se alimentaram com o que ganharam das pessoas e de outros moradores de rua. Em nenhum momento o motivo de estarem no local foi revelado. Falavam pseudônimos e improvisavam para responder os questionamentos das pessoas.
O espetáculo “Alaranjado” surgiu a partir da pesquisa, apresentado em 2016, na Fundarte. “Se não tivéssemos essa experiência na rua, o espetáculo não aconteceria com os detalhes que teve”, afirma. Para outra peça teatral, João passou seis meses malhando intensamente a fim de representar um boxeador. “Todo trabalho de espetáculo requer algum tipo de pesquisa, alguns até mais intensos que o normal”, destaca.
O professor Marcelo Adams também teve transformações físicas ao se preparar para uma apresentação. “Perdi peso para viver ´uma personagem´ que vivia em um campo de concentração. Pratiquei exercícios e diminuí a ingestão de alimentos, mantendo todos os cuidados possíveis”, afirma Adams, contando que o processo foi realizado por conta.
A atriz Tuti Kerber também conta de uma privação que viveu um dia antes de atuar. “Fui no show do Guns N’ Roses e não cantei, nem gritei e fiquei sem beber coisas geladas para não afetar a minha parte vocal. Precisava entrar em cena no dia seguinte”, revela.
Vejas as coisas mais chocantes na indústria cinematográfica:
Filme: BATMAN: O CAVALEIRO DAS TREVAS
O falecido ator australiano Heath Ledger entrou em um processo de imersão chocante em preparação para o vilão Coringa. O ator foi homenageado com um Oscar póstumo de Melhor Ator, depois de se trancar em um quarto de hotel por seis semanas, privando-se do sono e tomando medicamentos prescritos para mergulhar na psiqué do maníaco Coringa.
Filme: O RESGATE DO SOLDADO RYAN
O elenco do filme passou por um vigoroso treinamento em campos de treinamento para serem soldados da ficção. O ator americano Matt Damon foi o único que não teve que participar das rigorosas sessões de treinamento físico. O diretor Steven Spielberg queria que o resto do elenco se ressentisse com ele, de forma que isso se refletisse em sua atuação.
Filme: HOMEM DE FERRO 2
O ator americano Mickey Rourke também passou por uma longa preparação para viver o personagem russo Ivan Vanko. Rourke aprendeu suas falas em russo, comprou acessórios com seu próprio dinheiro e até visitou uma prisão em Moscou.
Filme: O PIANISTA
O americano Adrien Brody ganhou o Oscar de Melhor Ator no papel de um sobrevivente do Holocausto. Para tentar entender a profundidade do processo de perda, experimentada por seu personagem, Brody terminou com sua namorada, e desistiu de todos os seus pertences e estilo de vida de Hollywood.
Filme: ESQUADRÃO SUICIDA
O ator Jared Leto teria feito coisas bem loucas durante as filmagens, de acordo com o Screen Rant. No papel do diabólico Coringa, Leto enviou aos outros membros do elenco estranhos presentes relacionados aos respectivos papéis, incluindo um porco morto.
Filme: O CISNE NEGRO
A atriz Natalie Portman interpretou a bailarina Nina, personagem principal da história, ganhando o Oscar de melhor atriz. Portman passou por um ano de treinamento diário de oito horas para incorporar a bailarina com maestria e perdeu mais de nove quilos para viver a personagem.