Foram treze semanas da série que mostrou que o Município é muito mais do que apenas citros, frango e o corte de mato
“Acaciais, laranjais, frutos mil”. O trecho do hino de Montenegro nos remete às duas principais culturas desenvolvidas no Município: a silvicultura e a citricultura. Embora já mais misturada e intercalada com a pecuária e seus muitos aviários, a agricultura divide o território entre as laranjas e bergamotas ao Norte; e os matos de acácia e de eucalipto ao Sul. Divisão essa que se deu por fatores naturais e também culturais, de acordo com o povo colonizador do território.
Mas não somos só isso, no entanto. Como vimos nas últimas treze semanas com a série Agricultura Mais, no meio do que se considera tradicional e preponderante, há muito mais a ser colhido e consumido. Muitos montenegrinos – de nascimento ou de coração – vêm se dedicando ao novo e ao diferente e, mesmo enfrentando muitos desafios, têm prosperado. Dá bastante orgulho de ver!
A decisão destes tantos personagens que passaram por aqui carrega diferentes razões e significados. Querer fazer algo diferente do negócio da família foi a do jovem João Antonio da Silva, o primeiro produtor de morangos de Montenegro. Garantir um ganho complementar à plantação de citros foi a da família de Giovani Pedro Stein, que hoje prospera com a produção de leite. O simples gosto pela diversificação foi a da Fazenda Gabardo, com as nozes, búfalos, peixes e tantos outros itens.
Chefe da Sessão de Abastecimento da secretaria municipal de Desenvolvimento Rural, Maria Cecília Bartzen destaca o fator “experimentação” como um dos incentivos aos que optaram pelo diferente. “Algo que a gente percebeu é a busca por esses novos conhecimentos, que devem ser experimentados na terra. Eles precisam fazer experimentos lá, no espaço deles”, avalia, de seu contato com os agricultores e pecuaristas locais.
Na percepção de Estevão Carpes de Oliveira, atual titular da pasta, a diversificação tem caráter de necessidade para alguns. “O meu pai sempre dizia. É o pingo que enche o balde. Então quanto mais coisinha tiver durante o ano, pingando, ao final, o balde estará cheio”, reflete. Com a analogia, o secretário aponta para os ciclos das diferentes culturas, como a da bergamota, que produz de fevereiro a novembro, dependendo da variedade. “No resto do ano, ele segue tendo despesas. Então a diversificação é colocar um morango, colocar um peixe. De uma coisa só é difícil viver.”
Fora da série Agricultura Mais – até pelo porte pequeno de suas produções – algumas culturas acabam se destacando no montante final produzido. Dados da Prefeitura, de acordo com as notas fiscais emitidas, apontam que, juntos, o aipim e a batata-doce renderam mais de R$ 309 mil em 2017 para os produtores. No ano, o faturamento da cebola passou dos R$ 71 mil; o do tomate, dos R$ 43 mil; o do pepino, dos R$ 20 mil; o do milho, dos R$ 99 mil; e o da maçã, dos R$ 24 mil.
Banana, couve, figo, abacaxi, goiaba e tantos outros itens também se destacam. Não devemos esquecer, ainda, da melancia, também já bastante tradicional por aqui; e nem do açaí juçara – a mania do verão em 2018 – que também nasce em terras montenegrinas. Vamos relembrar nossa série?
No Pesqueiro, mostramos a produção da noz macadâmia. O item foi introduzido pelos proprietários da Fazenda Gabardo, que já tinham a noz pecã e resolveram apostar na nova variedade – ainda pouco difundida no país. A macadâmia é originária da Austrália e tem sido valorizada, principalmente, pelo mercado de cosméticos, que extrai seu óleo para a fabricação de diferentes produtos. Com poucos produtores locais, o Brasil vem importando bastante o item da África. Não falta potencial.
A produção de morangos em Montenegro é bastante recente. O primeiro produtor iniciou há cerca de cinco anos na Costa da Serra e, de lá pra cá, a cultura se espalhou e virou opção para diferentes agricultores. Em nota fiscal, o item registrou um faturamento de R$ 52 mil no ano de 2017, com perspectiva para mais crescimento, visto que o consumidor local tem valorizado o consumo do item que é produzido no próprio município. Convenhamos, morango é tudo de bom!
A produção de ovos sempre teve um destaque importante no que se refere aos produtores integrados a grandes empresas, como a Naturovos. O setor, neste sentido, movimenta milhões anualmente. Mas foi só em 2010, no entanto, que um jovem montenegrino optou por iniciar uma granja independente e comercializar o item no comércio local. Há desafios, ele não nega, mas o negócio tem dado certo. Hoje, ele já tem até concorrência no Município.
Segundo a secretaria municipal de Desenvolvimento Rural, a produção montenegrina de mel chega às 11 toneladas ao ano. São 33 apicultores espalhados pelo Município e tem gente com produção até mesmo na área urbana. Ao todo, há 1.302 colméias registradas na pasta, em um negócio que oferece suas vantagens, mas demanda bastante trabalho. Conviver com as picadas de abelha, claro, faz parte do negócio.
Antes, uma das principais atividades econômicas de Montenegro, a produção de leite teve seus altos e baixos, com as cooperativas locais que surgiram, terminaram e acabaram por abalar o segmento. Hoje, a bacia leiteira precisou se adaptar, foi “salva” por compradores de fora, como a Latvida e a Languiru, e ainda segue forte. Muitos dos produtores, inclusive, têm investido na modernização e no aumento de sua produção.
Conhecido por sua bela cauda e plumagem, o pavão também é criado em Montenegro. A bela ave é comercializada por quem quer enfeitar grandes pátios e tem bom valor de comercialização. Dependendo da variedade – tem o Branco, o Alecrim, o Asa-negra, o Azul e o Verde, dentre outros – o preço muda dos R$ 800 até os R$ 3.500. No bairro Centenário, uma propriedade possui 80 deles para venda. Um belo e bom negócio!
O foco da produção montenegrina de flores é o segmento do paisagismo. É justamente para ornamentar ambientes interiores e exteriores que os produtores dedicam seu dia a dia na busca pelas variedades que melhor atendam as necessidades dos compradores locais; e que também se adaptem ao “inconstante” clima de nossa região. Pareci Novo pode até se chamar de Cidade das Flores, mas Montenegro não fica tão atrás não.
Essa sobrevive ao tempo e coleciona apreciadores. À base de cana de açúcar e feita artesanalmente nos alambiques, a cachaça montenegrina perdeu espaço com a industrialização do item e a sua fabricação em grande escala. Na localidade de Sobrado, no entanto, a bebida ainda é uma tradição da família Müller, que produz, cultivando o carinho pela prática que, anos atrás, foi o principal sustento do grupo familiar.
É nas proximidades do Rio Caí – pelas características do solo – que ficam os belos e extensos campos plantados com arroz irrigado. Segundo a Prefeitura, são mais de 355 hectares cultivados com o grão e o principal comprador dessa produção local é de Nova Santa Rita – uma empresa que vende para marcas conhecidas do público, como a Blue Ville. Muita gente nem imaginava que a cultura existia em Montenegro.
Criar búfalos não é muito diferente do que criar bovinos. É preciso estabelecer uma rotina para o animal, para que ele fique preso no campo – já que, com sua força, nenhuma cerca segura o bichinho. O animal tem que estar perto da água pela troca de umidade. De carne bastante valorizada no mercado, a produção existe, mas é pouco difundida por aqui pela falta um frigorífico especializado no item pela região. Com estabelecimentos distantes, o custo-benefício acaba sendo baixo.
A criação de cavalos crioulos move uns quantos apreciadores do animal por aqui. Alguns pelo simples gosto, outros pelo esporte e outros, ainda, para a participação em eventos do segmento. Já teve cavalo de Montenegro fazendo sucesso na Expointer anos atrás. A prática demanda muito trabalho e dedicação, já foi mais lucrativa no passado, mas, mesmo assim, não perde seu espaço.
A maior parte dos criadores de ovelhas, por aqui, tem a atividade em pequena escala, apenas para consumo próprio. Mas tem quem busque uma criação mais especializada, como a vista na localidade de Rua Nova, onde a raça Texel vem sendo criada com foco no melhoramento genético. O negócio, no entanto, vem sendo desafiado pela falta de frigorífico especializado nas proximidades e também pela, ainda baixa, procura pela carne do animal.
Novidade em Montenegro e também a nível estadual – o forte da produção brasileira está em São Paulo – os cogumelos foram a opção de uma empreendedora na localidade de Pinheiros, que amava o item, mas tinha dificuldade em encontrá-lo para compra. O cultivo do fungo é bastante complexo; e demanda grandes investimentos financeiros e, principalmente, em conhecimento. Os resultados, aos poucos, vêm aparecendo.
Fora da série Agricultura Mais – eles estamparam uma extensa reportagem recentemente no Ibiá – os peixes têm sido a opção de renda de muitos montenegrinos que, inclusive, formaram uma associação só de piscicultura na busca por mais incentivo e políticas públicas. Em 2017, o ramo movimentou mais de R$ 230 mil e, com as feiras mensais, a produção local vem sendo mais valorizada.
Não paramos por aqui
O projeto Agricultura Mais pode estar ficando por aqui, mas o Ibiá segue acompanhando as principais tendências e novidades da área rural de nosso Município e noticiando tudo em nossas páginas – nas impressas e nas digitais – em primeira mão. Não deixe de nos acompanhar!