A campanha Junho Vermelho foi criada para reforçar a conscientização sobre a doação de sangue no Brasil.
Promovida por instituições públicas e privadas, a mobilização acontece anualmente, em alusão ao Dia Mundial do Doador de Sangue, celebrado em 14 de junho, data instituída pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
De acordo com o Ministério da Saúde, o Brasil registrou cerca de 3,2 milhões de doações de sangue em 2024, o que representa aproximadamente 1,4% da população brasileira. A OMS considera adequada a taxa entre 1% e 3% da população doando regularmente. Ainda assim, o índice está abaixo da meta ideal recomendada por órgãos técnicos da área, que varia de 3% a 5%.
O mês de junho marca o início do inverno, período que tradicionalmente apresenta redução nos estoques dos hemocentros em diversas regiões do país. Entre os principais fatores estão o aumento das doenças respiratórias, as férias escolares e as dificuldades de mobilização social.
A coleta de sangue é feita em hemocentros públicos e privados credenciados. A doação pode ser feita por pessoas entre 16 e 69 anos, com peso mínimo de 50 kg, em boas condições de saúde. Os doadores passam por triagem clínica e exames laboratoriais prévios. Cada bolsa de sangue pode beneficiar até quatro pacientes.
A campanha também visa esclarecer dúvidas e combater informações incorretas sobre o processo de doação. Segundo dados da pasta federal, a maior parte das doações no Brasil é realizada de forma espontânea, sem vínculo com pacientes específicos.
O Ministério da Saúde coordena a Política Nacional de Sangue, Componentes e Hemoderivados, e articula ações junto às secretarias estaduais e municipais. A rede pública de hemoterapia do país é composta por 32 hemocentros coordenadores e mais de 500 serviços de coleta, responsáveis pela captação, processamento e distribuição de sangue.
O Junho Vermelho busca ampliar a participação de doadores regulares e aumentar o número de pessoas cadastradas para doações futuras. A manutenção de estoques estáveis depende do engajamento contínuo da população ao longo de todo o ano.
Moradores de Montenegro precisam se deslocar para doar
Atualmente, Montenegro não possui serviço de coleta de sangue em funcionamento. Os dois hospitais da cidade — Hospital Montenegro (HM Regional) e Hospital Unimed Vale do Caí— não realizam este tipo de procedimento. Com isso, os voluntários interessados em doar precisam se deslocar até outros municípios.
Diante dessa situação, a vereadora Rivi Bühler apresentou recentemente uma indicação ao Executivo Municipal, sugerindo que a Secretaria Municipal da Saúde firme convênio para viabilizar a coleta de sangue no município. Uma das alternativas apontadas é a utilização da unidade móvel do Hemocentro de Porto Alegre, que atende cidades da região metropolitana.
A iniciativa busca facilitar o acesso da população local aos serviços de doação. Montenegro já contou com um Banco de Sangue no passado, o que contribuía para manter as doações ativas na cidade.
Enquanto não há definição sobre a retomada da coleta local, os voluntários que desejarem doar sangue devem continuar se dirigindo a centros de coleta em outros municípios do estado, como Porto Alegre.
Complexo hospitalar registra baixa nas doações e amplia estratégias de captação
O Banco de Sangue da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre tem enfrentado dificuldades para manter os estoques em níveis adequados. A instituição, que reúne diversos hospitais e é referência em áreas como oncologia e transplantes, atende pacientes que demandam transfusões frequentes, especialmente de plaquetas, o que aumenta a necessidade constante de reposição.
A supervisora de enfermagem do Serviço de Hemoterapia da Santa Casa, Scheila Roberta de Souza Bratti, afirma que a normalização dos estoques não ocorreu desde a pandemia de Covid-19. Segundo ela, a escassez atinge não apenas o complexo hospitalar, mas também outras instituições de saúde de Porto Alegre e da Região Metropolitana.

Diante da baixa recorrente, a Santa Casa tem adotado diferentes estratégias para estimular a doação. Entre elas estão campanhas organizadas pelas equipes de Serviço Social, que entram em contato com familiares de pacientes internados e que estão em tratamento com uso de hemoderivados. A instituição também utiliza redes sociais como ferramenta para ampliar a divulgação de conteúdos sobre a importância da doação.
Outra iniciativa é a chamada “doação virtual”, que visa mobilizar doadores por meio de convocações em cadeia, à medida que os estoques se aproximam de níveis críticos. Scheila explica que essas ações são organizadas de forma contínua, com a participação de diferentes setores do hospital.
Em relação aos tipos sanguíneos mais demandados, além do O negativo — considerado doador universal e comumente em baixa —, a Santa Casa também registra escassez de grupos mais comuns, como O positivo e A positivo. De acordo com a equipe técnica, isso ocorre porque são os mais usados na rotina hospitalar, devido à sua maior prevalência na população.
Scheila, afirma que a doação de sangue é fundamental para os serviços prestados pelos hospitais, pois não existe substituto industrial que desempenhe a mesma função dos componentes sanguíneos. Segundo ela, o sangue não pode ser comprado nem oferecido em troca de benefícios, o que torna a doação um ato voluntário e indispensável. “Tem que partir da pessoa. Não tem como a gente forçar alguém a doar ou obrigar a doação. É uma ação que precisa ser, de fato, altruísta”, explica. Ela também observa que alguns países, como os Estados Unidos, adotam o pagamento pela doação, o que ajuda a manter os estoques abastecidos, mas esse modelo não é permitido no Brasil. No sistema de saúde brasileiro, a manutenção dos estoques depende exclusivamente da conscientização e da iniciativa da população em doar de forma espontânea.
Educação é o caminho para conscientizar sobre a doação de sangue
A supervisora de enfermagem do Banco de Sangue da Santa Casa de Porto Alegre, Scheila Roberta de Souza Bratti, destaca que a conscientização sobre a importância da doação de sangue deve começar ainda na escola. Para ela, a educação é a forma mais eficaz de criar responsabilidade social e estimular a solidariedade desde cedo.
Segundo Scheila, em muitos casos, as pessoas só percebem a importância da doação quando enfrentam uma situação em que o sangue é necessário para si ou para um familiar. Por isso, ela defende a inserção do tema no ambiente escolar como estratégia de formação de uma consciência coletiva e preventiva.
Ela lembra que a legislação brasileira permite a doação a partir dos 16 anos, desde que o menor esteja acompanhado de um responsável legal. “É uma fase da vida em que já é possível aproximar os jovens dessa realidade”, comenta.
Além disso, Scheila sugere que os doadores convidem amigos ou familiares a acompanhá-los na doação. “Se cada doador trouxer outra pessoa, dobramos o número de bolsas coletadas. Esse simples gesto tem um grande impacto”, afirma.
A enfermeira também reforça a importância de manter o hábito de doar com regularidade. Ela cita que momentos de crise, como a última enchente no estado, mostraram a força da solidariedade da população. “Se essa disposição se mantiver durante o ano todo, com doações frequentes, o sistema de saúde terá melhores condições de atendimento.”
Scheila ressalta que o processo de doação é simples e rápido, levando em média 50 minutos desde a chegada até a saída. Segundo ela, a equipe do Banco de Sangue trabalha constantemente para oferecer um atendimento eficiente e acolhedor.
Como doar sangue na Santa Casa de Porto Alegre
O Banco de Sangue da Santa Casa de Porto Alegre realiza coletas de sangue mediante agendamento, que pode ser feito pelo celular ou computador. No site do hospital, o doador tem acesso à agenda de horários disponíveis e pode escolher o dia e o turno para a doação. Embora o agendamento seja recomendado, também é possível doar por ordem de chegada, desde que haja disponibilidade no momento.
Ao comparecer ao serviço, o doador deve apresentar um documento oficial com foto. O primeiro passo é o cadastro, que requer dados completos e endereço fixo, para que o doador possa ser localizado futuramente, se necessário. Após o cadastro, a pessoa passa por uma triagem clínica, que inclui questionário sobre o estado de saúde, verificação da pressão arterial e exames rápidos para medir a quantidade de hemoglobina.
Se a triagem estiver dentro dos parâmetros exigidos, a doação é autorizada. São coletados cerca de 450 mililitros de sangue, e o doador precisa ter no mínimo 50 quilos para realizar a coleta. O procedimento leva de cinco a dez minutos. Após a doação, a equipe acompanha o doador por alguns minutos e oferece um lanche.
Entre as recomendações para o dia da doação estão: estar alimentado, evitar refeições muito gordurosas nas duas horas anteriores, ter dormido bem na noite anterior, não ter ingerido bebida alcoólica nas últimas 12 horas e evitar a prática de exercícios físicos no mesmo dia.
Agende sua doação: https://doesangue.santacasa.org.br/
HCPA promove atividades para incentivar doações
O Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) realiza, entre os dias 10 e 15 de junho, a Semana da Doação de Sangue, com ações voltadas à mobilização da comunidade. Nesta sexta-feira, dia 13, o Banco de Sangue promove uma atividade com ambientação temática e participação de representantes da área da Segurança Pública.
A iniciativa ocorre em um momento de estoques críticos e tem o objetivo de ampliar o número de doações voluntárias. Os doadores serão recebidos com lanches e ambientação junina. A equipe do Banco de Sangue também estará caracterizada para reforçar o clima da campanha.
Estão confirmadas doações coletivas de servidores da Polícia Rodoviária Federal, Polícia Federal, Receita Federal, Exército Brasileiro, Marinha do Brasil, Aeronáutica, Brigada Militar, Polícia Civil, Polícia Penal, Corpo de Bombeiros Militar, Detran-RS e EPTC.
De acordo com o chefe do Serviço de Hemoterapia do HCPA, professor Leo Sekine, a ação visa contornar a queda nas doações registrada nos meses de inverno. Segundo ele, o frio e a chuva afetam a presença de doadores, e por isso é importante reforçar o convite à participação da população.
O Banco de Sangue do HCPA funciona de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h, e aos sábados, das 8h às 12h, na Rua São Manoel, 543, em Porto Alegre. O agendamento pode ser feito no site do hospital.
Informações adicionais estão disponíveis pelos telefones (51) 3359.8504 ou (51) 9937.7892 (WhatsApp).

Projeto Cultura Doadora discute importância da doação de sangue
Na quarta-feira, 11, a Fundação Ecarta promoveu um painel sobre a importância da doação de sangue, dentro do projeto Cultura Doadora. A atividade foi realizada em alusão ao Dia Mundial do Doador de Sangue e à campanha Junho Vermelho.
Participaram do debate a responsável pelo Setor de Captação de Doadores de Sangue do Hemocentro do Rio Grande do Sul, Ana Lúcia de Leão Dagord, a fisioterapeuta e doadora Carolina Milnitsky e o idealizador do Banco de Sangue Virtual, Ricardo Nunes. Durante a atividade, Ana Lúcia destacou os desafios enfrentados pelos hemocentros para manter os estoques de sangue em níveis adequados. Segundo ela, o Hemocentro de Porto Alegre atende 42 hospitais conveniados e enfrenta dificuldades para suprir a demanda constante por hemocomponentes.
Ana Lúcia também apontou que o Hemocentro de Porto Alegre precisaria de cerca de 100 doações por dia para atender às demandas da Capital, da Região Metropolitana, da Serra e do Litoral. Atualmente, sem mobilização ativa, a média diária gira em torno de 30 doadores.
Durante o painel, foi ressaltada ainda a persistência de mitos e desinformações em relação à doação de sangue. A responsável pela captação relatou que, em uma palestra recente, ainda foi questionada se doar sangue “afina ou engrossa” o sangue, o que reforça a necessidade de ações educativas e informativas. “No século em que estamos, com tantas tecnologias, tanta comunicação, tanta informação disponível, as pessoas ainda têm medo, têm mitos em relação à doação de sangue”, comentou Ana Lúcia.
O projeto Cultura Doadora busca ampliar o debate sobre a importância da doação voluntária e frequente de sangue como forma de manter os estoques e garantir o atendimento em situações emergenciais e tratamentos de saúde contínuos.