Projeto Afrorescer busca resgatar cultura negra em Montenegro

Um projeto de extensão que tem como foco a cultura afro-brasileira a partir de manifestações artísticas está em andamento na Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (Uergs). O Grupo de Pesquisa e Extensão Afrorescer tem como coordenadora a professora Marli Susana Carrard Citta e pelo menos sete participantes fixos.

Com encontros em todas as sextas-feiras, a partir das 14h, na sala 5 da Fundarte, ele é aberto à comunidade. De forma gratuita, o projeto busca um resgate da cultura negra e agrega os alunos dos quatro cursos da Uergs: dança, teatro, música e artes visuais. “Ele teve início no final de março. E a finalidade é reforçar esse debate dentro da instituição, além de produzir algo artístico e levar até a comunidade. Temos a intencionalidade de que essa produção chegue a lugares públicos, escolas, Apae e quilombolas. Esse são saberes importantes ”, destaca Marli.

As conversas das reuniões, de acordo com a professora, são sempre despretensiosas. “Trocamos indicações de leituras, conversamos sobre o que lemos e assistimos e de que forma essas experiências podem se aproximar dessa unidade de artes. Outros professores contribuem, trazendo elementos culturais de dança, música e teatro da cultura negra”, salienta a docente.

Para o espetáculo, que reunirá arquétipos, orixás, a previsão de intervenção aos montenegrinos é por meados de novembro, mês da consciência negra. “Mas ainda esbarramos no recurso. Para isso, buscaremos apoio financeiro para custear deslocamentos, figurinos. Mas mesmo que isso não aconteça, não nos impedirá de dar continuidade”, explica a professora.

A ideia para a apresentação não é demonstrar o sofrimento dos negros, já muito trabalhado nos conteúdos históricos, conforme destaca Marli. “É mostrar algo que valorize, que traga luz, mudança. Apesar de que todo o sofrimento sempre será um grito de resistência”, diz.

A prazerosa vivência dentro da instituição
O aluno Jonathan Oliveira Ferreira, 24 anos, estudante de Teatro afirma que ainda restava uma lacuna no currículo do curso sobre teatro experimental do negro. Dentro dessa necessidade e da falta de conhecimento de muitos estudantes sobre o assunto, o projeto de extensão surgiu como instrumento cultural. “Eu vejo o negro como estrangeiro da sociedade. A mulher e o homem negro aparecem sempre objetificados, hiperssexualizados, como uma herança da escravidão mesmo. E esse projeto abre outros locais de fala. Negros, pessoas da periferia não são mais marginalizados e assumem o lugar central, de protagonismo”, explica.

Natural de Porto Alegre, o jovem mora em Montenegro há dois anos. “Montenegro é branca, silenciosa. Eu vejo poucos negros na rua. E quando os enxergo, procuro conversar, saber quem são esses negros. E, nessa troca, descobri grupos como o de hip-hop. E percebo que quando saio na rua usando turbantes, com referências africanas, me olham de forma estranha. E como me visto com roupas femininas, trago esses questionamentos da questão da raça e do gênero”, informa Jonathan.

Aluna de dança, Belsane Macêdo, 22 anos, relata que há pouco entrou no grupo. A jovem acredita que esse estudo é importante principalmente para conhecer sua história, dos parentes e antepassados. “E para mostrar à comunidade todo o trabalho que a universidade desenvolve aqui dentro. E é sempre bom abrir para a comunidade”,conclui a jovem.

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